Trabalhadoras domésticas contra as reformas de Temer

Em ato realizado na quinta-feira, 27 de abril, na capital paulista, integrantes do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município de São Paulo protestaram contra as reformas trabalhista e previdenciária promovidas pelo governo de Michel Temer que ameaçam anular as conquistas obtidas recentemente pela categoria.

A mobilização, que ocorreu no Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas e um dia antes da greve geral ocorrida em todo o país, foi organizada, além do sindicato, pelas Secretarias Estaduais da Mulher Trabalhadora e do Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores, e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços. Além disso, teve o apoio da Internacional de Serviços Públicos (ISP) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
 
 
Na praça do Patriarca, no Centro de São Paulo, as trabalhadoras distribuíram folhetos e jornais que explicavam o porquê da luta contra as reformas e pela manutenção dos direitos conquistados pelas domésticas. Em seguida, realizaram um ato com falas de várias militantes. 
 
“Este ato é para mostrar que nós não estamos de acordo com perder os direitos que tanto tempo demoraram para ser conquistados”, afirmou Silvia Maria Da Silva Santos, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município de São Paulo.
Segundo ela, as medidas promovidas pelo governo prejudicarão ainda mais as trabalhadoras dessa categoria.
 
“Se nós pararmos, para tudo, porque os que têm outros trabalhos dependem de uma doméstica para ficar em casa, com seus filhos, para eles irem trabalhar. Quem vai ficar com os filhos? Quem vai cozinhar? Então é necessário sim ter a doméstica.”
 
De acordo com Sonia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres, “há até pouco tempo as domésticas estavam lutando exatamente para equiparar seus direitos com os da classe trabalhadora, e hoje elas e toda a classe trabalhadora estão perdendo esses direitos”.
 
“Por serem de uma categoria muito mais vulnerável, que já não consegue se aposentar e trabalha por muitos anos, formada justamente por mulheres mais empobrecidas, com menos escolaridade, a maioria negra, vão ser as mais penalizadas com esse tipo de reforma”, afirmou. 
Para Rosana Aparecida da Silva, secretária de Combate ao Racismo da CUT de São Paulo, muito além do que uma simples disputa partidária, a população está bastante preocupada com a perda de seus direitos. 
 
“As nossas perdas trabalhistas não aparecem na grande mídia. E quando a gente vai para a rua falar com a população, distribuir jornal e fazer o corpo a corpo, a população fica preocupada com tudo que está acontecendo”, ressaltou. 
Segundo Tatau Godinho, cientista social e ex-secretária de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres da Presidência da República, durante o governo de Dilma Rousseff, “a relação dessa categoria com os trabalhadores como um todo é fundamental para a gente barrar esse desmonte das relações de trabalho mais dignas, com mais igualdade”. 
 
Maria Zélia, que passava pelo local do ato, pediu para dizer algumas palavras. Denunciou que trabalha como empregada doméstica desde os 16 anos e hoje, aos 62, não consegue se aposentar. Como nem sempre teve carteira assinada, não consegue provar que trabalhou durante todo esse período.
 
À ISP, ela contou que passou por muitas casas e empresas. Já teve como patrões Roberto Marinho, patriarca da Rede Globo, o dono da Paris Filmes, e até um tio de Aécio Neves, do PSDB.
 
“Fui no INSS, em vários lugares. Falam que não consigo provar. Que não vou me aposentar mais. Agora eu estou parada. Estou há um tempinho desempregada. E meu marido perdeu o emprego há dois meses. Tá todo mundo desempregado, agora não existe mais emprego.”
Uma das filhas trabalha em um posto de gasolina há quase um ano. Sem carteira assinada. Maria Zélia diz, indignada:
 
“As pessoas trabalham muito tempo sem registro. Você trabalha o tempo todo, mas e o registro? Como o presidente quer que a pessoa aposente com 49 anos de contribuição, se a pessoa entra no trabalho e não tem registro? Como? Como ele quer isso? Servindo a eles, sem registro.”