Resistência Rumo ao primeiro Encontro Regional de Povos Originários da ISP Interaméricas
Considerando não só as circunstâncias atuais, se não também a resistência história e ancestral dos povos originários de Abya Yala (América) na defesa do Bem Viver, ou seja, de uma vida coletiva equilibrada, em que a vida seja o ponto central da existência, como o movimento sindical pode contribuir nessa luta de resistência, dar visibilidade a ela e aprender com os povos originários?
David Boys
“O Bem Viver pode ser a difícil experiência de manter um equilíbrio entre o que nós podemos obter da vida, da natureza, e o que nós podemos devolver. É um equilíbrio, um balanço muito sensível e não é alguma coisa que a gente acessa por uma decisão pessoal.”
Ailton Krenak, Caminhos para a cultura do Bem Viver
Estima- se que na América Latina vivam 58 milhões de pessoas pertencentes a 800 povos indígenas, que representam 9,8% da população regional (CEPAL, 2020). As desigualdades estruturais afetam há cinco séculos os povos originários da região, persistindo um padrão generalizado de vulnerabilidade e pobreza, especialmente nas áreas rurais e em áreas de assentamentos indígenas.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), mais de 86% das pessoas indígenas de todo o mundo, em comparação com 66% de seus homólogos não indígenas, trabalham na economia informal, na qual enfrentam condições de trabalho precárias, entre elas baixos salários e ausência de proteção social.
A pandemia de COVD-19 acentuou as desigualdades na América Latina e Caribe, um continente estruturado historicamente por processos de colonialismo e escravização de pessoas indígenas e afrodescendentes. Esses processos foram marcados por relações fortemente centradas na concentração e lacunas de acesso ao poder e aos recursos, gerando profundas desigualdades sociais, exclusão, racismo, intolerância e misoginia.
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A discriminação contra povos originários e indígenas está baseada na teoria das raças, que defendiam a superioridade da raça branca em relação as demais. Um conceito linear que desconsidera a diversidade cultural e humana. Esse pensamento justifica, ainda hoje, violências, falta de políticas públicas, dificuldade de acesso aos direitos e perseguições a lideranças indígenas. Este vídeo, por outro lado, busca chamar atenção para a resistência ancestral dos povos originários das Américas, a partir de suas vozes e ressaltando a importância dessa luta para a preservação do meio ambiente e da Mãe Natureza.
Uma luta chamada resistência
Os povos indígenas, particularmente as mulheres indígenas, as meninas, jovens e pessoas idosas indígenas, são as que sofrem o maior impacto das consequências da crise socio sanitária causada pela pandemia de covid-19. Segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), de maneira similar a realidade global no que se refere a informalidade laboral mencionada anteriormente, estima-se que nos países da região mais de 80% dos trabalhadores e trabalhadoras indígenas trabalhem no setor informar, uma proporção ostensivamente superior àquela registrada entre os não indígenas (OIT, 2020ª e 2019). Além disso, no caso das mulheres indígenas, estes indicadores são ainda mais desfavoráveis.
A informalidade, somada às medidas de isolamento adotadas pelos governos nacionais, afeta diretamente aos produtores e produtoras indígenas, assim como seu acesso aos mercados.
Os povos originários também são os mais afetados pela pandemia no que diz respeito ao acesso à saúde, devido a baixa capacidade dos serviços de saúde nos territórios indígenas para reconhecer as necessidades locais e oferecer ações efetivas, as condições de vida precárias e a maior vulnerabilidade em relação às doenças respiratórias.
Além disso, as invasões de territórios demarcados por empresas extrativistas e colonos, a mineração artesanal, as empresas madeireiras e outros grupos expõe a altos riscos de contágio não só por covid-19 mas também por outras doenças como a malária. Como consequência, há uma limitação de ação autônoma dos povos originários na mitigação da pandemia a partir de sua cosmopercepção.
Por outro lado, os povos originários resistem há também cinco séculos. Recentemente, atravessaram o oceano Atlântico, em uma viagem contrária àquela que fizeram os colonizadores, em defesa da vida do planeta a partir da cosmopercepção indígena. NA COP26, a Conferência Climática das Nações Unidas, que aconteceu em Glasgow, de 1 a 12 de novembro, os e as indígenas defenderam uma mudança de paradigma: sem povos indígenas e originários não há preservação ambiental e portanto vida sustentável na Grande Mãe Terra. Ou seja, o lucro acima do povo não pode continuar sendo o paradigma de desenvolvimento ao preço da extinção da vida de nosso planeta. A pandemia nos ensinou essa lição.
Considerando não só as circunstâncias atuais, se não também a resistência história e ancestral dos povos originários de Abya Yala (América) na defesa do Bem Viver, ou seja de uma vida coletiva equilibrada, em que a vida seja o ponto central da existência, como o movimento sindical pode contribuir nessa luta de resistência, dar visibilidade a ela e aprender com os povos originários?
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A pandemia de COVID-19 desnudou as desiguldades para as populações mais vulneráveis e em particular para as povos orginários. A conquista de direitos é recente para os povos indígenas, e está em risco neste momento atual, seja pelo desmonte das políticas públicas, ou pelo modelo de desenvolvimento baseado no lucro acima do povo! Este vídeo denuncia essa situação e busca apontar caminhos de ações conjuntas entre trabalhadoras/es e povos originários. É uma transformação baseada no coletivo e na diversidade!
A transformação é coletiva e diversa
Por isso, a Internacional de Serviços Públicos, no marco do Projeto DGB BW, convida a todas, todos e todes para o primeiro Encontro Regional de Povos Originários, que acontece nos dias 24 e 25 de novembro, de modo virtual.
São objetivos do encontro:
1-Conhcer a perspectiva dos povos originários e indígenas sobre a região Interamérica;
2-Conhcer mais de perto os desafios atuais dos povos originários e indígenas;
3- Discutir o papel do movimento sindical frente às lutas e desafios dos povos originários e indígenas da região e;
4 – Construir alianças estratégicas (movimento sindical e organizações indígenas nacionais) para fortalecer e estreitar vínculos e construir uma agenda conjunta.
Igualmente, a ISP lança lus sore a temática com os vídeos “Uma luta chamada resitência” e “ A transformação é coletiva e diversa”, ambos produzidos em parceria com a TV dos Trabalhadores (TVT) do Brasil, no marco do Projeto DGB BW. Os vídeos buscam sensibilizar e debater a partir da perspectiva dos povos originários, as condições de vida e a resistência coletiva.