ISP realiza atividades com afiliadas de saúde da região Interamérica sobre Tratado de Pandemia da OMS

Desde fevereiro de 2023, com a apresentação do texto da mesa do Tratado de Pandemia do Organização Mundial da Saúde (OMS), a Internacional do Serviços Públicos (ISP) tem trabalhado para influenciar as negociações conduzidas pelo Órgão de Negociação Intergovernamental (INB). Na região Interamérica, temos atuado para definir com as afiliadas, especialmente do setor de saúde, estratégias de incidência junto aos governos para inclusão das demandas dxs trabalhadorxs nas negociações

Até o momento, entendemos que nossos esforços para fazer com que a voz dxs trabalhadorxs fosse ouvida tiveram um impacto positivo - delegações governamentais buscaram incluir no texto pontos importantes. No entanto, muitos dos temas apresentados não foram mencionados ou abordados adequadamente nas versões preliminares, que chegaram ao conhecimento público. Muitos países e organizações da sociedade civil estão expressando preocupação com o enfraquecimento das medidas para enfrentar desigualdades inaceitáveis no acesso a vacinas, terapias e outras tecnologias de saúde.

Esses foram os debates que permearam o encontro realizado pela ISP em agosto com representantes das afiliadas do setor de saúde no Brasil. Além de tomar conhecimento sobre como anda as negociações do Tratado, o encontro foi uma oportunidade para definir quais as demandas devem ser prioridade na estratégia de incidência junto aos representantes brasileiros que participam das negociações a nível mundial.

Em junho, a ISP organizou uma oficina com as afiliadas do Chile, Fenpruss, Confusam e ANEF. As entidades organizaram uma estratégia para levar adiante as principais demandas das/os trabalhadores, dedicando-se principalmente às campanhas de redes. No mês seguinte, na Colômbia, no marco do evento que discutiu a reforma no sistema de saúde do país, ISP e afiliadas tomaram conhecimento sobre o processo do tratado e aproveitaram a oportunidade para tirar fotos com cartazes, demandando a inclusão de direitos trabalhistas e sindicais no texto do futuro instrumento de preparação, prevenção e resposta à futuras emergências sanitárias.

Em setembro, durante o SUBRAC na América do Norte, o coordenador regional de saúde para Interamericas e Secretário Sub-regional para América do Norte da ISP, Euan Gibb, levou o tema do Tratado das Pandemias para ser debatido. As afiliadas do Canadá e EUA se interessaram pelo tema e demonstraram insatisfação ao tomar conhecimento de que seus governos estavam bloqueando medidas para suspender direitos de propriedade intelectual.

Qual a posição dos governos da região

No fim março, em um evento organizado pela ISP com as afiliadas do setor de saúde da região andina sobre o tratado, representantes dos governos do Brasil, Colômbia e Bolívia apresentaram suas atuações e demandas durante as rodadas de negociação.

A representante do Brasil Carolina El Debs, diplomata baseada em Genebra, destacou que o Zero Draft traz algumas propostas interessantes como a equidade como princípio estruturante do texto, a rede da cadeia de suprimentos (como medida concreta para garantir o acesso às tecnologias de saúde em tempos de pandemia). E lembrou que há uma grande heterogeneidade na capacidade produtiva dos países importante no desenvolvimento da capacidade técnica nos países em desenvolvimento. Já o representante da Colômbia, assessor especial do Ministério da Saúde, Francisco Rossi, refletiu sobre o modelo de inovação na área bioquímico-farmacêutica e questionou como é possível continuarmos com o mesmo modelo baseado em monopólio

mesmo após a experiência da pandemia da COVID-19. As regras de propriedade intelectual geram escassez artificial para que empresas possam cobrar preços altos. Então, a vice-ministra de saúde da Bolívia, Dra. Maria Rene Castro, destacou aspectos como a possibilidade de que a vigilância genômica possa levar à discriminação. Para Castro, essas informações devem ser usadas para gerar conhecimento e não para gerar problemas.

Afiliadas da ISP se reúnem com governos da região

Em Março de 2023, a afiliada mexicana SNTSS teve uma importante reunião com o governo de seu país, na qual foram levantados os principais pontos de preocupação identificados pela ISP. Os temas foram muito bem recebidos pelo governo mexicano, em especial sobre a necessidade de melhorar a linguagem referente à proteção de trabalhadoras e trabalhadores de saúde. Além disso, representantes do governo mexicano se mostraram abertos a discutir a suspensão automática dos direitos de propriedade intelectual, em que pese a sabida oposição dos países do Norte Global.

Em Julho, junto às afiliadas argentinas FESPROSA e UPCN, a ISP esteve com funcionárias do ministérios de Saúde e das Relações exteriores para buscar informações sobre o processo de negociações. As funcionárias do governo argentino deixaram muito claro que o país está comprometido em avançar no texto uma melhor linguagem para proteger trabalhadoras/es da saúde, bem como proteger o investimento público em pesquisa em desenvolvimento, além de incluir cláusulas que garantam a suspensão dos direitos de propriedade intelectual, em caso de nova emergência sanitária.

Em setembro, o Secretário sub-regional para o Brasil, João Cayres, e o Assessor Regional de Equidade em Saúde para Interamérica, Pedro Villardi, se reuniram com representantes da Assessoria Internacional do Ministério da Saúde brasileiros e da Divisão de Saúde Global do Itamaraty, junto com as organizações afiliadas CNTS, FNE, Confetam, Sindsep, Sindsaúde-SP e SEESP para avaliar o trabalho realizado Grupo de Negociação do INB, cuja vice-presidência é ocupada pelo embaixador brasileiro em Genebra, Ministro Tovar da Silva Nunes.

Em outubro, o Ministério Relações Exteriores do Brasil realizou uma consulta pública com atores não-estatais referente ao acordo. A Internacional dos Serviços Públicos e suas afiliadas do setor saúde participaram do evento presencial realizado em Brasília, no dia 25/10, intervindo em oito oportunidades. Além disso, após o evento, enviaram um documento formal, com as demandas dos trabalhadores de saúde e cuidados para governo brasileiro, no âmbito do processo de negociação conhecido como "Acordo sobre Pandemias", da OMS.

Embora a minuta tenha seções que abrangem todas as preocupações relevantes em relação a uma futura pandemia, bem como o fortalecimento e a sustentação da arquitetura de saúde global existente, as cláusulas e disposições de muitas seções carecem de compromissos claros dos Estados membros. Em muitos pontos, a linguagem não responsabiliza os Estados-membros por medidas cruciais necessárias para atingir a meta de sistemas de saúde robustos e resilientes, preparados para futuras emergências de saúde. A próxima reunião do INB será realizada entre os dias 4-6 de dezembro de 2023 e espera-se que o texto final seja aprovado em maio de 2024 durante a 77 Assembleia Mundial de Saúde realizada pela OMS.