Discussões do IAMRECON2024: a geopolítica e o impacto no movimento sindical

Na noite de abertura da 13ª Conferência Regional Interamericana da Internacional de Serviços Públicos (ISP), seu Secretário Geral, Daniel Bertossa, apresentou um poderoso diálogo com o Secretário Geral da Confederação Sindical das Américas (CSA), Rafael Freire, sobre o cenário geopolítico no mundo e nas Américas e seu impacto no movimento sindical.

Após a mesa de abertura oficial da conferência, um painel de alto nível abordou o cenário geopolítico no mundo e nas Américas e seus impactos no movimento sindical, do qual participaram o secretário geral da ISP, Daniel Bertossa, e o secretário geral da CSA, Rafael Freire.

Freire iniciou seu discurso descrevendo as complexidades e os desafios enfrentados pelo sindicalismo na região, enfatizando que "nossa região tem muitas lutas e resistências. Ninguém está de joelhos. Mas há uma ameaça real, uma direita que está se organizando com força, uma direita dura que não hesita em atacar as conquistas sociais e os direitos trabalhistas que tanto trabalhamos para obter".

Rafael Freire Secretário Geral da CSA

"Nossa região tem muitas lutas e resistências. Ninguém está de joelhos. Mas há uma ameaça real, uma direita que está se organizando com força, uma direita dura que não hesita em atacar as conquistas sociais e os direitos trabalhistas que tanto trabalhamos para obter".

Freire enfatizou a necessidade de unidade nas organizações sindicais, afirmando que "não podemos nos dar ao luxo de cada um lutar isoladamente em seu próprio território. O inimigo é comum, a ameaça é global, e nosso desafio é articular uma estratégia de resistência e defesa conjunta". De acordo com Freire, a recente pandemia demonstrou que o modelo neoliberal está em crise, com suas políticas de privatização deixando milhões de pessoas sem acesso a serviços essenciais e tornando o trabalho ainda mais precário. "A luta pelos serviços públicos não é uma luta de poucos; é a batalha de toda a classe trabalhadora, e nossa região deve ser o exemplo de resistência organizada. Precisamos de uma frente comum em defesa dos direitos que o neoliberalismo e a extrema direita buscam eliminar."

Em seguida, Daniel Bertossa fez uma profunda reflexão sobre o contexto global, descrevendo o momento atual como um "estágio pré-fascista". "Estamos vivendo em tempos de alerta máximo", afirmou Bertossa, destacando que "vemos como o modelo econômico atual cria uma elite cada vez mais poderosa, enquanto milhões são marginalizados e privados de direitos". Bertossa destacou que esse fenômeno, longe de ser novo, tem suas raízes em uma estratégia histórica do fascismo, em que uma crise é gerada e depois apresentada como a única solução. "O fascismo e o autoritarismo não desapareceram; eles encontraram novas formas de se manifestar, adaptando-se a um mundo globalizado, e é nossa responsabilidade identificar essas ameaças e agir com força."

Daniel Bertossa Secretário Geral da ISP

"O fascismo e o autoritarismo não desapareceram; eles encontraram novas formas de se manifestar, adaptando-se a um mundo globalizado, e é nossa responsabilidade identificar essas ameaças e agir de forma decisiva.

Além disso, Bertossa enfatizou a importância de voltar às bases e ouvir as necessidades reais dos trabalhadores. "A direita populista tem sido capaz de capitalizar o descontentamento das pessoas, falando de sua frustração, de sua raiva, enquanto nós precisamos voltar a essa proximidade, voltar às raízes do sindicalismo para construir o poder coletivo.

Bertossa concluiu sua intervenção com uma poderosa reflexão sobre o papel dos sindicatos no contexto da crise atual: "Precisamos encontrar um inimigo claro, alguém que represente as forças que atacam a classe trabalhadora e tornam os serviços públicos precários. Hoje, essas forças são as corporações e os monopólios que querem enriquecer às custas dos direitos das pessoas. Nossa tarefa é mostrar que os serviços públicos são a espinha dorsal de uma sociedade justa, onde o bem comum está acima do lucro."

A conferência continuará até sexta-feira, dia 15, com mesas-redondas e painéis destinados a definir o plano de ação regional da ISP. Esse evento marcou o início de um espaço para reflexão crítica e compromisso renovado para enfrentar os desafios atuais e futuros na defesa dos serviços públicos e dos direitos trabalhistas nas Américas.