Afrodescendentes exigem políticas de trabalho decente

No Dia Internacional dos Povos Afrodescendentes, sindicalistas antirracistas se reúnem para discutir trabalho decente e políticas públicas

O Comitê Interamericano de Combate ao Racismo e a Xenofobia da Internacional de Serviços Públicos (ISP) promoveu um diálogo virtual para marcar o Dia Internacional das Pessoas Afrodescendentes, convidando sindicalistas que apoiam a luta e acadêmicos especialistas em questões socioculturais, políticas e históricas ligadas à população afrodescendente.

Estabelecida em 2021, a data foi escolhida pela Nações Unidas em referência à 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, realizada entre os dias 31 de agosto e 8 de setembro de 2001, na cidade de Durban, na África do Sul. Com 173 países participantes, como resultado foram adotados dois documentos para aplicação de políticas públicas de combate ao racismo ao redor do mundo foram publicados. Passados 22 anos desde a histórica conferência, a luta pelos direitos de pessoas afrodescentes segue viva e necessária.

O debate promovido pela ISP e coordenado por Agripina Hurtado, do Comitê Interamericano de Combate ao Racismo e Xenofobia, e pela representante brasileira do Comitê, Jucélia Vargas, presidente nacional da Confetam, teve como tema ‘Políticas públicas de trabalho decente para Afrodescendentes’ e contou com a participação do Dr. Henry Belarcarzar Valencia, da Dra. Sheila S Walker e do Dr. John Tovar. 


Para um público de 24 participantes de 9 países da região, Dr. Henry Belarcarzar - biológico, especialista em genética humana e botânica- apresentou suas pesquisas relacionadas à etnia e a cultura afro, citando também sua experiência como homem negro vivendo na Colômbia - país com a terceira maior população afro fora da África, atrás apenas do Brasil e do EUA. Durante sua fala, Belarcarzar enfatizou como existe diferença de tratamento em relação às pessoas negras de pele escura e de pele clara, mas que isso não faz com que o racismo seja mais leve ou significativo para um ou para outro, “perdemos a oportunidade de ter políticas públicas pra nós, ao mesmo tempo que em perdemos a capacidade de sonhar, de acreditar que podemos ter culturas diferentes” afirmou  o acadêmico.

A antropológica Cultural e diretora executiva de Afrodiaspora Global Inc., Dra. Sheila S Walker lembrou que sempre ouviu pouco em relação ao povo afrodescendente durante os períodos de graduação em Ciências Políticas e de Ph.D em Antropologia em Universidades europeias e norte-americanas, e que as poucas coisas ditas eram mentiras. Walker contou que seus professores “fizeram tudo para que acreditasse que os africanos chegaram nas américas sem nada, com seus corpos mas não com cérebros, não com mentes. A verdade, é que a escravidão recrutou profissionais especializados, de tecnologia e ciências, fazendo com que grandes profissionais africanos fossem desacreditados e reduzidos a escravos fora de suas terras”, ressaltou.

Por sua vez, o Dr. John Tovar- gerente global do Ciclo de Conferências de Estudos Africanos e da Diáspora Africana - CEADA- ressaltou dois pontos importantes para o debate: primeiro a situação global das pessoas afrodescendentes e, em seguida, sobre como a colonização deixou consequências e quais são elas. Trovar trouxe uma reflexão a nível global, afirmando que apostaria “mil dólares para alguém me mostrar uma sociedade ocidental ou ocidentalizada onde os indicadores socioeconômicos mostram que a população afrodescendente não está na base da pirâmide”, disse. A luta sindical antirracista é para que as políticas pública sejam efetivas e praticadas, com o objetivo de que a desigualdade decorrente da escravidão seja dizimada.

Ao longo do ano, diferentes datas pautam temas importantes tanto para a luta sindical quanto para outras causas. Usar os dias comemorativos como ajuda para organizar os debates faz com que seja mais fácil lembrar o porquê de se bater tantas vezes em uma mesma tecla: as coisas demoram para mudar. O Dia Internacional das Pessoas Afrodescendentes é um ótimo exemplo disso, já que nasceu em consequência de debates que ainda hoje são atuais e que foram reproduzidos durante a roda virtual proposta pela ISP. Durante a reunião, idéias de ação foram comentadas, como a iniciativa de realização de um diagnóstico interno da ISP sobre a organização da luta antirracista nas entidades, assim podemos saber se estamos caminhando para o lugar certo.