A vitoriosa greve por vacina dxs trabalhadorxs de educação em São Paulo

Depois de 120 dias de paralisação, mobilizações digitais e físicas, muita pressão contra Prefeitura e o governo do Estado e solidariedade internacional, as e os grevistas conquistaram a antecipação da imunização de educadorxs e funcionárixs da rede municipal da capital paulista. Por Elden Ribeiro

Em 10 de fevereiro de 2021, trabalhadoras e trabalhadores da Educação Municipal de São Paulo, a maior cidade do Brasil, entraram em “greve pela vida” contra a volta das aulas presenciais no pior momentos da pandemia no país e no município até então, sem vacinação contra a covid-19 para profissionais do setor e sem a estrutura sanitária adequada para receber alunos/as e funcionários/as.

“As e os profissionais da educação sempre defenderam o ensino presencial, mas, diante de uma pandemia e um governo que pouco faz pela população, não restou outra alternativa a não ser a greve pela vida das nossas crianças e profissionais da educação”, diz Luba Melo diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (SINDSEP), filiado à Internacional de Serviços Públicos (ISP).

“As escolas não cumprem as exigências mínimas dos protocolos de combate à covid. A higienização de muitas unidades educacionais, por exemplo, deixa a desejar com o corte nos contratos de limpeza. Sempre quisemos retornar, mas com segurança sanitária, vacina e testagem em massa."

Luba Melo, diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (SINDSEP)
Luba Melo, diretora do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (SINDSEP)

Com o objetivo de enfraquecer o movimento liderado pelo SINDSEP, a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, sob o comando do secretário Fernando Padula, cortou o ponto das e dos profissionais, deixando-os sem receber salários. Tal situação levou a que o SINDSEP criasse um fundo de greve online para arrecadar recursos para trabalhadores e trabalhadoras que perderam sua renda por conta dessa medida autoritária.

“Uma greve pela vida, para muitos, parece algo subjetivo, e na verdade nós estamos lidando com algo bastante potente. São os educadores e educadoras em greve, não só para proteger a sua vida, mas para proteger a vida das famílias, a vida do munícipe, as vidas das crianças e alunos. Isso é bastante nobre”, diz Maciel Nascimento, secretário de Educação do SINDSEP.

A higienização de muitas unidades educacionais, por exemplo, deixa a desejar com o corte nos contratos de limpeza.

Durante os quatro meses de paralisação, o sindicato realizou encontros e assembleias virtuais, intercaladas com atividades e atos presenciais, como, por exemplo, protestos de rua e carreatas. Em 6 de maio, por exemplo, uma passeata saiu da frente da Prefeitura Municipal e terminou na Secretaria Municipal de Saúde, na Vila Buarque – um trajeto de quase 10 quilômetros.

Além do corte de ponto, o dirigente do SINDSEP afirma que as e os trabalhadores receberam outras represálias de parte da Prefeitura de São Paulo. Por exemplo, diretoras e diretores de escolas enfrentaram cotidianamente assédio moral, sendo pressionados a apontarem quem eram os grevistas. “Felizmente, foram poucos que fizeram esse apontamento, na verdade colocando-se inclusive em risco de sofrer alguma penalidade, mas entenderam que a greve era legítima”, diz Nascimento.

A Secretaria Municipal de Educação diz ter feito 18 reuniões com as e os grevistas para tratar das reivindicações, no entanto, o dirigente do SINDSEP diz que foram apenas quatro e todas sem a presença do secretário Fernando Padula e com uma grande dificuldade de interlocução. “A gente considera um acinte alguém que tem uma responsabilidade por gestar os conflitos, por gerenciar uma rede enorme como é a rede municipal de educação, se negar a sentar com as redes sindicais para realizar uma negociação”, protesta.

A entidade sindical abriu discussões diretamente na Câmara de Vereadores municipal, chamando atenção para os problemas e pressionando o prefeito para intermediar o diálogo.

Estivemos sob ataques diários. Então, o fundo de greve e o apoio das entidades internacionais foi fundamental

Maciel Nascimento destaca a importância da ajuda de outras organizações na luta para manter a greve. Através do apoio da ISP ao incentivar a colaboração das filiadas da organização em todo o mundo, o fundo de greve criado pelo SINDSEP contou com a solidariedade internacional, como a do Sindicato Nacional de Funcionários Públicos e Gerais do Canadá (NUPGE) e da Central Sindical de Quebec (CSQ). “Estivemos sob ataques diários. Então, o fundo de greve e o apoio das entidades internacionais foi fundamental”, diz.

Para o dirigente, a imprensa deveria parar de dar espaço para as notas e informativos do governo, e sim começar a ouvir o outro lado da história. A greve não teve ampla divulgação pela mídia, mas, mesmo assim, a mobilização do SINDSEP chegou aos pais, e 82% não levaram seus filhos às escolas sem ter certeza da implementação das medidas de segurança reivindicadas. “Conseguimos garantir alguma visibilidade na imprensa, porque nós fomos para as ruas, nos manifestamos”.

Após muita luta, a principal reivindicação da categoria – ser vacinada – foi atendida. Em 9 de junho, o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou o início para 11 de junho da vacinação das e dos 363 mil profissionais de Educação Básica de 18 a 44 anos. Com esse adiantamento da imunização, antes agendada para o final de julho, esperava-se que ainda em junho 843 mil servidores e servidoras da educação de todo o estado estariam vacinados contra a covid-19.